música da semana — Amelinha — Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor
Por alguma razão misteriosa do inconsciente humano acordei essa semana lembrando dessa pérola dos anos 80 chamada Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor (sim, estou solteiro).
Conheci essa música através do meu pai, homem do qual herdei alguns hábitos excêntricos. Meu pai era a versão anos 2000 do amigo com o aux cable e nas viagens de carro ele nos “presenteava” incansavelmente com os CDs de sua escolha. Ele também fazia questão de “explicar” a música, pausando e voltando várias vezes para ter certeza que tínhamos “entendido” a intenção do artista (na maioria das vezes eu estava queimando adversários com o meu Houndoom no pokemon Silver).
Painho é um cara eclético, sua playlist engloba do Kiss a Jackson do Pandeiro, mas o que mais me marcou são os momentos fora da curva. Eu desenvolvi a minha própria paixão pelo Trio Nordestino e por artistas perseguidos pela ditadura militar graças a ele.
E uma dessas músicas fora da curva é a bendita Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor. A composição original é de Zé Ramalho, mas a versão definitiva está na voz de Amelinha. A cearense canta com o drama e a intensidade de uma atriz Shakespeariana, uma seriedade louvável para uma música cujo refrão é, acima de tudo, bem engraçado.
Não se enganem: mulher nova é uma epopeia digna de Camões. É uma saga sobre as relações entre grandes homens da história e suas mulheres. Apesar do feminismo contemporâneo ter corretamente criticado o argumento “atrás de um grande homem sempre há uma grande mulher” (afinal, por que não focar nas histórias dessas mulheres?), a letra é de uma candura genuína. Zé Ramalho trás uma perspectiva histórica surpreendentemente criativa e abrangente que vai de Helena de Troia a Maria Bonita passando por Alexandre, o Grande e os grandes navegadores. Segundo o argumento do autor, todos esses homens alcançaram a grandeza porque estavam apaixonados.
É uma ideia bonita, apesar de inocente e incompleta. E nisso que está a graça da música. Às vezes tudo o que você precisa é andar pela casa cantarolando mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor.
E digo mais: você pode rir da frase, mas ela não está errada.